Por que ao olhamos
no espelho vemos um corpo gordo, feio ou envelhecido e neste mesmo instante alguém pode nos dizer o quão belo estamos? Ora, podemos notar que a resposta é uma rasa
percepção individual. Cada um percebe o seu mundo, não tenho nenhuma esperança
de que o outro perceba o mesmo mundo que o meu, até mesmo porque diante de mim
o mundo pra você sou eu e o mundo pra mim é você. Quando apalpo uma garrafa de água
o que sinto não é a garrafa e sim a minha mão sendo apertada pela garrafa, constrangida
pelo mundo apresentado, ou seja, a percepção que tenho do mundo diz apenas
sobre mim, portanto, se eu estive dez sentido ao invés de cinco o mundo certamente
seria outro, a garrafa não seria mais sentida da mesma forma, basta um microscópio
e a garrafa já não é mais garrafa, basta um olhar mais aprimorado e vejo células
que antes não percebia.
Dado a minha
percepção concluo que não há uma verdade universal a cerca da pergunta inicial,
porém a verdade do corpo belo, sem rugas, magro está amplamente ligada ao elemento sucesso, o culto ao corpo está amplamente cristalizado nos meios na sociedade
ocidental contemporânea, portanto o que vemos não é uma supervalorização do corpo e sim uma supervalorização a uma imagem de copro. Surgiram nos últimos anos academias que são verdadeiros centros de personalização do corpo,
com vários espaços de convivência e acessórios que contribuem para um ideal de
corpo perfeito, vemos também um crescimento nos serviços estéticos de aperfeiçoamentos
de contornos do corpo, poderia enumerar aqui diversos serviços para um aprimoramento
do culto a imagem do corpo. O que pretendo abordar neste espaço é uma critica
ao falso culto ao corpo e a uma performance discursiva nos encontros vitais.
Segundo a física
quântica um grão de areia contem o universo o que contem o corpo então? O corpo
fala, revela, se sustenta... Em profunda maestria, notamos grupos de pessoas ao
atravessar uma rua, jogadores num campo de futebol, dançarinos num espetáculo, loucos num caps... Ambos criam e repetem movimentos, que afetam e se deixam afetar, o corpo é o
modo de ser no mundo de cada um, tão singular que teria que existir uma nova
palavra para se definir, a forma do seu corpo e a maneira a qual se movimenta diz exclusivamente quem é você
no mundo. Porém o corpo se adapta e se coloca em um ideal coletivo e um pluralismo insaciável que perde sua singularidade. Pessoas
sentadas em uma reunião se portam diferente de uma roda de amigos num momento de
descontração, não precisa nenhuma verbalização para que possamos notar as
diferenças, porém sabemos que o homem não tem uma essência a priori, desta
forma qualquer forma anterior de tentativa a ação é fracassada, pois como dizia
Spinoza; cada encontro é inédito.
Desde a origem
do pensamento ocidental com os gregos até a modernidade o homem manteve uma visão
dualista do corpo, ou seja, o corpo como um objeto animado por uma alma, e a
vida boa para o homem seria aquela que menos o corpo atrapalhasse,
portanto houve uma supervalorização do falar e uma deteriorização do sentir, é
só retomar conceitos fundamentais para o pensamento antigo de Platão, pensamento
Estoicista, Pensamento Medieval e até mesmo os pensadores racionalistas da
modernidade, os que pensam logo existem, muito embora nós últimos séculos o
homem sofreu uma crise da ciência e consigo uma crise da razão, adventos como
guerras, catástrofes e grandes holocaustos marcaram uma enorme falha do homem
no controle da natureza.
O futuro
chegou e com ele a angústia do homem em relação ao mundo, e um filosofo muito
importante desconstrói toda a forma de pensar da filosofia. Nietzsche, para ele
toda palavra é uma máscara e toda filosofia uma fachada, com uma severa critica
ao Niilismo e a qualquer ideal Nietzsche nos faz refletir todo o curso do
pensamento ocidental em mais de dois milênios, e diz o seguinte sobre o corpo.
“Aos que
desprezaram o corpo quero deixar minha opinião: tudo é corpo e nada mais, a
alma é apenas um nome dado a qualquer parte do corpo.”
Em apertada síntese
o homem contemporâneo pauta sua vida em um corpo performático, estamos
habituados a fundamentar o nosso pensamento no discurso, sendo que a fala é a
ação representativa do corpo, o cérebro não origina nada, tudo que percebemos
no mundo sentimos primeiro com nosso corpo, após isso o cérebro como um
processador faz uma alquimia e devolve para uma representação daquilo que
sentimos, ou seja, a fala e a ideia que foi tanto valorizada até hoje é a parte
ínfima e menos importante da nossa existência, são por fim os sentidos do corpo que
vibram em cada célula e em cada organismo, o inconsciente é revelado através do
corpo, a fala é uma representação integrada num ideal niilista que foge a
singularidade do homem.
Para Nietzsche
a dança é uma superação, pois podemos experienciar o si mesmo, assim como a
arte, na arte o instante se esgota nele mesmo, sem qualquer ideal performático,
a repetição como o ideal escolar é fundamental para o homem, porém não é tudo,
aquilo que fazemos com isso é mais importante, a vida é sinônimo de tempo e tempo
é sinônimo de ação, a vida deve se expandir e se contrair, pois caso contrario não
há vida, as nossas pulsões devem se esgotar nela mesmo, a vida boa a partir disto é então inútil, não serve para nada, pois a soberania da vida não é serviu que de
nada soberano tem.
Portanto vejo
o corpo como esse movimento de expansão e contração, e neste movimento idêntico
ao da ostra o corpo morre a cada instante, e no final a soma de todas as
tristezas ganham, não tem nada mais além disso, a vida é cruel, tediosa,
insignificante e marcada por mais angustias do que felicidades, não quero fazer
guerra ao niilista ou ao feio, não quero nem mesmo acusar o acusador, que minha única negação
seja desviar o olhar, que assim como Nietsche eu seja apenas alguém que diz
sim, e que com este pequeno fragmento de texto eu deixe claro apenas que você
não habita um corpo, o corpo é tudo e nada mais.
Danilo Pedrosa