quinta-feira, 26 de maio de 2016

O QUE PODEMOS APRENDER COM O FILME: O QUARTO DE JACK?


Recentemente elaborei uma análise psicológica do filme “O quarto de Jack”, prometi visualizar elementos do filme sob a ótica existencial, para que alunos da graduação em psicologia pudessem debater questões do filme e visualizar o tratamento das diversas abordagens psicológicas. Após esta análise constatei em minha relação com o mundo elementos semelhante aos abordados no filme, portanto descrevo a seguir estes elementos.
O filme trata de um sequestro, onde Joe uma adolescente de 17 anos é mantida em cativeiro por 8 anos, nesse período Joe engravida do seu sequestrador, a que ela se refere como “Velho Nick” e Jack nasce dentro do cativeiro. O telespectador é convidado a ver e sentir o filme através dos olhos de Jack e as narrativas e diálogos de Jack iniciam no dia do seu aniversário de 5 anos. O que você precisa saber a priori é que mãe e filho convivem em um quarto aparentemente pequeno durante todo 5 anos, recebendo as visitas do velho Nick de quando em vez. É uma historia trágica de violência que nos remete a uma reflexão sobre a vida.
Joe cria um mundo para conviver com seu filho e esconde a realidade dele até os 5 anos, Joe estava em plena adolescência quando foi sequestrada, mesmo havendo o corte de suas relações com o mundo exterior ela da um sentido a sua vida ao criar seu filho Jack. Quantos de nós ficamos sem chão ao menor sinal de prejuízo diante de uma carreira, família ou amigos ou diante de uma tragédia como a perda de um ente querido? Ou até mesmo  a chegada de um filho indesejado? Muitos se vêm no completo caos. A primeira grande lição que o filme nos mostra é a capacidade de construir a sua historia mesmo diante das intempéries do mundo.
E não para por ai, o filme mostra inúmeros elementos que Jack aprende em sua criação, dignos da mais sofisticada educação. Jack expressa a mais nobre lição do relacionamento com si mesmo ao ver a sua mãe com dor de dente: “se não liga não importa”. A máxima da imagem abaixo nos diz o quão importante é a relação que temos com as coisas do mundo, quantas vezes ficamos extremamente furiosos ao receber uma fechada no trânsito, e por quantas vezes descontamos essa raiva em amigos ou familiares ou em nos mesmos, bastaria apenas não ligar.



Outra imagem ainda do inicio do filme é quando Joe mata o rato que estava no quarto, e Jack diz: “ele estava vivo, ele era real!”. Jack mesmo não tendo uma visão do mundo exterior se angustia com a perda do rato real, essa cena parece pessimista, porém é muito importante para entendermos o mundo em que vivemos, o que é real nos angustia? – Sim!
Somos finitos e temos a consciência da morte, sabemos que vamos morrer e que tudo a nossa volta também, muitas vezes expressamos com todo vigor: “você sabe com quem está falando?” Não dando assim por conta de que somos pequenos e que nem tudo é para sempre, muitos conflitos emocionais surgem por conta da fuga da angústia, a angústia é inevitável e em cada escolha que fazemos matamos outra parte de nos.



A importância da angústia está em se abrir para uma presença privilegiada no mundo, pois com ela você pode ser quem realmente é, diferente de livros de auto ajuda e otimismo barato que faz com que corremos dos sofrimentos e não os enfrentamos. É visto claramente no filme que a angustia dos personagens é a porta de saída do quarto, quando Jack e Joe sentem a falta de uma vela para o bolo de aniversário,sentem falta da vitamina semanal, ou com os questionamentos de Jack sobre coisas reais e coisas da televisão, só então Joe começa a mostrar o mundo para Jack, e na brilhante cena abaixo como síntese dessa angústia Joe mostra para Jack que existe dois lados para tudo.



A reflexão desta cena é fundamental para o bom relacionamento com amigos, família, companheiros ou qualquer tipo de relacionamento entre duas ou mais pessoas. A partir do conhecimento de si mesmo você pode conhecer o outro. Vivemos por ai perambulando como criaturas de carne e osso saída de um conto de fadas, cumprimentamos nossos semelhantes como se quiséssemos dizer: “oi”, “estamos aqui”, “prazer em conhecê-lo nesta geração”, mas no fundo nunca acordamos do sono do castelo da bela adormecida.
O que quero dizer é de extrema importância, porém não adiantaria eu sair por ai e gritar com toda rouquidão, para que você acordasse, portanto caro leitor, cada pessoa é um mundo do outro lado da parede, por inúmeras vezes tentamos trazer pessoas para o nosso quarto, quando queremos que a nossa percepção de mundo seja a única, é de uma tirania medonha quando apenas nosso ponto de vista é o que importa, por isso reflita sempre que você pode ser único e conviver com outros que também são únicos.
O filme nos mostra até ai uma sequencia de elementos categóricos para este texto, é de uma profunda reflexão teórica, com á pratica desta teoria os protagonistas do filme conseguem o aporte do seu desejo: saem do quarto.
A segunda metade do filme só é relevante se você entender a primeira do ponto de vista reflexivo, quando Jack sai do quarto e encontra a sua mãe ele tem vontade de voltar para o quarto, os eventos sucessivos que vão acontecendo apontam para uma hostilidade não vista antes no filme, acontecem conflitos familiares, desentendimento com uma repórter, dificuldades financeiras, e Jack aos poucos vai compreendendo o mundo a sua volta.

A reflexão final que eu trago do filme é de que o mundo não tem sentido e, portanto, nós temos que nos criar por si só. Quando Jack faz uma narrativa na cena ao lado de sua mãe na rede ele diz: “A mãe e eu decidimos que porque a gente não sabe do que gosta, vamos experimentar tudo.” A reflexão de quem somos e para onde vamos é uma questão que o homem sempre se pergunta, e que faz com que nossa ação no mundo seja pautada nessas questões, e como não sabemos o que gostamos não sabemos qual o nosso fim, será que ainda permanecemos no quarto ou já saímos dele?

Danilo Pedrosa

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