Quando acordei, antes de expressar
qualquer resposta eu morri. Passaram-se anos, eu continuava ali, costas
encurvadas, olhos sem direção, lábios ainda apertados e uma gota de lagrima
ainda parada. Anos de perda, ausência resumida em vários pequenos momentos
antes do inicio da letra da canção. Uma mão segurando a testa o cotovelo sobre
a mesa e a outra apoiada pelo joelho, as extremidades ainda tremem. Anos de
solidão, resumidos em cada pedido para não me importar. Alguém esta na minha
frente. Enquanto morria, percebi o sabor da minha vida, um aroma de rejeição
subiu pela coluna adentrou ao meu paladar se misturou com a saliva e engoli, ao
passar pela garganta foi se dissipando em urina, senti um leve tremor abdominal
e um frescor frio e gelado do medo o sabor ligeiramente rápido deu lugar à impotência,
um retraimento involuntário da pélvis e um pequeno espasmo orgástico de sabor
unicamente meu. Passaram-se anos e eu estava ali, parado na minha frente, olhando
curioso para o ultimo sofrimento antes de morrer, a expressão de agonia retraída
e escondida atrás de um espasmo de esperança. Passaram-se anos e ninguém me notou,
os anos mais importantes da minha vida foram estes, todos os anos constrangidos
em um só corpo, um corpo já sem órgãos, afetado pelo vazio, sonorizado pelo
silêncio, parece que não despertou, parece que não acordou para a vida,
passaram-se anos e ninguém sentiu o cheiro, não tem ninguém lá dentro. Enrugue-me
a testa, me aperte a garganta, me abaixe a cabeça, mas não vá embora, fique me
olhando, vislumbre-se apaixone-se, ame-se, a música esta começando, já vai
cantar, afinal não tenho mais tempo pra qualquer resposta, vou esquentar a
janta!
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