Não quero
colher o que plantei, o que é meu não está guardado, não passei por momentos difíceis
e minha vida não faz sentido algum. Todos os meus dias são cotidianos, as
coisas não mudam nem pretendem. Quando a vida acabar não pretendo deixar nenhum
legado, não pretendo ser lembrado, que no meu leito de morte eu esteja apenas
morrendo, nunca me arrependerei de algo e não quero ter feito diferença na vida
de ninguém, que meus sucessores estejam viajando e nem me vejam falecer. Não
queiram entender sequer uma vírgula dessas minhas palavras, dar respostas é o
que eu menos quero. Sobre a vida; não tenho nenhuma ambição, não pretendo ter
carros, riquezas, cargos e vantagens, não quero ganhar nenhuma discussão, não
pretendo parecer mais bonito, mais evoluído e nem mais melancólico que ninguém,
não quero ir embora nem quero ficar, que a indiferença e a angustia me dominem
até causar náuseas, não pretendo amarrar o cadarço nem pentear os cabelos, não
pretendo nem cortar os cabelos.
Não pretendo viver,
mas em hipótese alguma ignorarei o amor, não ligo para a tristeza, mas nunca
esquecerei o sorriso de uma criança, não atribuo sentido algum para o dia de
hoje, porém não o esquecerei no dia de amanhã, não me ambiciono para a vida,
mas não seria capaz de ignorar projetos de engajamento, não pretendo pentear
meus cabelos, mas não os torno despenteados, que o seu crescimento seja orgânico
e gratuito, que o modo como meu cabelo cresce seja meu o meu modo fundamental
de ser no mundo, que eu não o amarre nem o solte, não o pinte nem o escove, que
ele seja gratuito assim como o vento que o torna embaraçado, que a vida seja gratuita,
que eu ame o mundo ou não, que minha única negação seja desviar o olhar, e que
eu não viva em tempos mortos, mas que tudo somando em suma quero ser algum dia
apenas alguém que diz sim.
Danilo Pedrosa